Artigos publicados no Jornal da Mathias 2011

Artigos do Vereador Ivo Fiorotti, publicados em sua coluna do Jornal da Mathias no ano de 2011


Edição 36
O BEM COMUM PODE CONTESTAR O PODER!
Aletéia, por fim, indaga-me com uma das questões mais caras da herança cristã, ou seja, a capacidade de conversão do cidadão errante, que quando cai em si retoma o caminho do mestre nazareno. Fala-me que ficou marcada com o filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, onde o jovem Francisco Bernardone, abandona sua vida de herói cavaleiro em festas e luxúria, para tornar-se “missionário pobre entre os pobres, irmão do universo”, com certeza, um dos maiores símbolos de conversão do século XIII até os dias atuais. 
“A vida livre na busca do bem comum, na vida do ‘Chico de Assis’, pode contestar o poder do dinheiro e dos príncipes e dos papas?” Aletéia estava me oportunizando retomar minhas raízes espirituais. Relembrei a trajetória de João Pedro Bernardone (1182-1226), que se despindo frente ao pai Pedro Bernardone, à mãe Pica Bourlemont e ao bispo de Assis dá uma guinada em sua vida, após a experiência do beijo ao leproso, onde vê Cristo no mais excluído dos excluídos da época e articula uma irmandade de seguidores para operar a inclusão social de todos. Decide manter o nome de Francisco, como o pai o chamava pela sua paixão pelo esplendor Francês da época, mas com o sentido de viver a fraternidade universal em contradição com a vida lucrativa de burguês comerciante sonhada pelo seu pai. 
No seguimento da tradição franciscana, trago as reflexões de Guilherme de Ockham (1285-1347), que cerca de cem anos após o Mestre Chico, chegou a considerar heréticos os pensamentos do Papa João XXII. Vejam só: rejeitou a doutrina do papa que considerava a existência da propriedade como de origem divina e, sendo assim, defendia a exclusão do direito de usufruir dos bens terrenos quem não possuía sua propriedade, pois ninguém pode consumir justamente o que não possui. Guilherme afirma a existência da propriedade por convenção e lei humana com o intuito de controlar a cobiça e a desavença. Direito de Propriedade e a Constituição da Autoridade para governar derivam , para Ockham da necessidade para garantir o bem comum. Quando não garantem, devem ser substituídos. Quem os legitima é a aprovação de toda a comunidade sobre os quais estende sua soberania. A propriedade e o poder são legítimos quando queridos pelo povo. 
Em seu pensamento político, criou conceitos contraditórios, como “regularmente” / “ocasionalmente”.   Guilherme não acredita que qualquer constituição ou outra legislação possa dar conta de toda a situação possível; os indivíduos têm de estar preparados para improvisar meios para lidar com ocasiões imprevistas. Quanto ao governo político, Ockham sustenta que o poder deriva do povo, e não da Igreja; o imperador e os outros governantes não precisam de ver a sua eleição confirmada pelo papa, nem podem ser depostos pelo papa (exceto que, ocasionalmente, um papa, ou qualquer outra pessoa, atuando pelo povo, pode depor um governante injusto ou sem préstimo). 
Os governantes têm de respeitar os direitos dos seus súbditos, como o direito à propriedade, apesar de, pelo bem geral, se poder anular um direito. Quando à governo da Igreja, apesar de reconhecer que o papa tem o “poder inteiro” num certo sentido, rejeita a doutrina de que um papa pode fazer tudo o que não for imoral nem proibido por Deus; os papas têm de respeitar os direitos, incluindo os direitos dos descrentes, sob a lei humana. (Ockham parece ter sido um dos primeiros a introduzir na filosofia e na teologia a noção de direito dos advogados.) “Regularmente”, o papa não pode ser julgado por quem que lhe seja inferior na igreja, mas “ocasionalmente” pode sê-lo, por exemplo, se for suspeito de heresia.
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 34
OUSAR PELA BUSCA DO BEM COMUM!
Estou me convencendo que o principal resultado de minhas conversas com Aletéia tenha sido o de despertar-lhe o gosto de buscar novos conhecimentos, tanto no diálogo com os outros, na prática, como nos livros e na Internet. Confidenciou-me que aprendeu com seu filho a manusear buscas na Internet. Foi assim que me contou novidades do Mestre Aquinate para além do que lhe havia falado. 
E tascou-me uma observação provocante: “Tem grandes elogios e reconhecimento pelo fato de Tomás de Aquino criar uma síntese filosófica cristã, mas tem muita crítica do uso de suas reflexões para legitimar o poderio da Igreja Católica no fim da Idade Média e início da Idade Moderna. Não teve outros pensadores que contestavam estas idéias consideradas tão perfeitas?” Foi então que me lembrei de Mestre Eckhart!  
Eckhart e Tomás de Aquino viveram no século XIII. Foram alunos do mestre medieval Alexandre Magno. Os dois são frades Dominicanos, discípulos de São Domingos, e são considerados inspiradores de duas tradições complementares da vida cristã: uma baseada na filosofia racional e outra na necessidade das inspirações místicas que trazem as novas certezas.   
Enquanto Tomás se dedicou à pesquisa, à formulação filosófica e ao ensino nas universidades, Eckhart assumiu responsabilidades práticas de fundar e dirigir conventos, do acompanhamento espiritual de religiosos e da condução dos negócios com os senhores feudais. Simplificando: Eckhart, em suas pregações e escritos, viveu tentando dar respostas aos desafios cotidianos do dia a dia, das pessoas e da relação da ordem dominicana com as demais instituições medievais; Tomás de Aquino procurou dar repostas científicas e filosóficas da presença da religião cristão-católica na civilização medieval e, sobretudo moderna, que se iniciava. 
Teve a felicidade de viver dezenove anos a mais que seu confrade e a infelicidade de em seus dois últimos anos de vida enfrentar um processo de inquisição, ou seja, da instituição católica considerar suas pregações como nocivas à fé cristã. Embora tenha se retratado, foi condenado após sua morte. No entanto, inspirou grandes pensadores místicos como Joana d’Arc, o filósofo cristão Hegel e o pensamento místico-cristão contemporâneo.
Falava do “desprendimento na experiência com Deus” como uma “vida de pura disponibilidade” em viver as virtudes cristãs.  Pregava o mistério de Deus como o mistério do amor, da justiça, da paz, da bem-querença e utilizava da linguagem cotidiana para que as pessoas compreendessem a fé cristã. Suas pregações que ganhavam a simpatia da população tornaram-se elemento de inveja entre os demais mestres e pregadores que levantaram acusações em nível de doutrina, para que a instituição lhe tirasse sua legitimidade. Em seu processo forjaram teses com frases soltas de seus escritos, pois interessava aos donos do poder de plantão que ele fosse eliminado.
Por isto, Aletéia, Mestre Eckhart em suas pregações e escritos foi daqueles que “ousou” ir além das verdades e das regras dominantes da sociedade medieval. Mexeu no que era mais sagrado, as verdades de fé da Igreja Católica, dizendo que a experiência de fé com Deus, em primeiro lugar, não era cumprir as pesadas doações e rituais que a igreja exigia. Também não se tratava somente de conhecer as virtudes oficiais cristãs. Tratava-se de viver a experiência do mistério de Deus no amor, na misericórdia, na solidariedade, enfim, no “desprendimento” que “disponibiliza” para o serviço aos outros. Não te parece, Aletéia, que esta é um pouco do itinerário de inspiração para as lideranças comunitárias e de representação política? É inegociável, pois não nos prende a nada, senão ao mistério de Deus! Nos deixa livres para tudo enfrentar, desenvolver, construir e viver!
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 32
PARTICIPAR DA BUCA DO BEM COMUM!
Evidente que minhas recordações agostinianas do livre-arbítrio como “opção para o bem” não ficaram apenas em meu pensamento: foram partilhadas com Aletéia! E ela me pergunta: “Amigo Ivo, me diga, eu noto que poucos se interessam em buscar melhorias nas vilas e bairros, mas todos se beneficiam e aceitam os resultados! Assim, não importa se poucos ou muitos participem desde que haja quem se preocupe com aquelas melhorias que beneficiam todos e não só alguns. O OP é uma novidade ou uma necessidade pra garantir melhorias para todos?”. 
Pensei, pensei, pensei.... e a complexidade da resposta aumentava na medida em que temas de “organização política” de vários pensadores me inundavam a memória: Platão e Aristóteles, Tomás de Aquino e Mestre Eckhart, Thomas Hobbes e John Locke, Karl Marx e Hannah Arendt, dentre outros.  Organizei este sub-intinerário nestas reflexões, partindo do tema gerador: a organização social! 
Iniciei por uma curiosidade e lhe disse que estes pensadores comparam a organização social humana com a das abelhas, das formigas e outras espécies animais. Falei-lhe dos métodos pedagógicos que visam estimular a convivência social, a divisão de tarefas e a força do trabalho coletivo, levando os alunos para observar como as “abelhas sem ferrão” vivem em suas colméias. 
Nos olhos aguçados de Aletéia surgia o semblante acolhedor para uma profunda reflexão. Falei-lhe de Tomás de Aquino, sulista italiano de família nobre, com certeza o maior pensador medieval que viveu apenas 49 anos, no século XIII. Aluno brilhante de Santo Alberto Magno, pela sua dedicação em muito pesquisar e pouco falar, foi apelidado de “boi mudo”. Dizia o mestre Alberto: “Quando este boi mugir, o mundo inteiro ouvirá o seu mugido”. Este mugido continua sendo ouvido nas obras de filosofia e teologia: a “Suma Teológica”, a “Suma Contra os Gentios” e outros escritos e conselhos, como o de política: Do Reino ou Do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre. 
Seu grande mérito foi realizar a primeira síntese do cristianismo com a visão aristotélica de mundo, permitindo bases filosóficas sólidas para a teologia e a superação da visão materialista da filosofia aristotélica. Provou ser possível pela razão admitir a existência de Deus, através da demonstração das “cinco vias”, ou cinco caminhos!
Seguindo Aristóteles, as formas de organização social são fruto da necessidade, mas diferente da das abelhas que com o passar dos milênios reproduzem sempre a mesma forma de vida social. A criação e a comunicação humana são dinâmicas e constroem novas formas que visam avançar na busca do bem comum de todos. Diz Tomás de Aquino: “Os homens livres, por serem racionais, podem agir de uma maneira ou doutra (...) abandonados à diversidade, a sua busca é amorfa e diferente. Para que haja o consórcio entre eles, importa haver um que direcione a vontade de todos a um mesmo fim, de forma ordenada” O governante que, para Tomás não importa se for um Príncipe ou Oligarca, é necessário para a garantia do bem comum. Enquanto para Aristóteles, o bem comum é garantido pelas escolhas iluminadas pelas virtudes humanas, como a da Justiça Social, pois o horizonte é a vida terrestre, para Tomás de Aquino em que o horizonte é a vida eterna, as virtudes humanas devem ser informadas pelas virtudes da fé cristã. 
Assim, o OP, seguindo o pensamento de Aristóteles e Tomás de Aquino, inova na medida em que permite a participação dos cidadãos nas ações do governante na busca do bem comum. Todos os cidadãos elegem o governante! Alguns, de forma livre, prontificam-se a participar de sua governança, como no OP. Falaremos mais adiante das virtudes! 
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 31
UNIÃO DOS OPERÁRIOS: NOVAS CONQUISTAS!
Dia 18 de novembro completa-se 28 anos que as 97 famílias ocupantes do antigo Jockey Clube do Prado, em seus 42 hectares da NELPA, tiveram seu direito de posse reconhecido pelo Tribunal de Alçada do RS. Recordo a fala singular do Presidente do colegiado de nove juízes, o juiz Dr. Luiz Melíbio Uiraçaba Machado, dirigindo-se aos ocupantes que acompanhavam a sessão: “Vocês estão recebendo um presente de Natal, o de permanecer na área, cuja posse a justiça acabou de reconhecer”! Na verdade, este juiz acabava de desempatar, com o chamado voto de Minerva, a decisão que estava em 4 a 4.  
Recordo, neste julgamento, de falas do incansável defensor da equidade e da justiça social, o advogado dos pobres Dr. Jacques Alfonsín, que levantando a tese do “estado de necessidade social”, afirmava o direito humano “ao sol, à sala e ao solo”. Antecipava na jurisprudência conquistas sociais que vieram a serem reconhecidas cinco anos depois, na Constituição Cidadã de 1988, como o “direito à moradia” e a “função social da propriedade”. 
Recordo da alegria dos moradores no retorno à vila para dar notícias aos demais ocupantes que estavam reunidos em oração na Capela Divino Mestre. Nem mesmo os cerca de dois quilômetros feitos á pé, pois o ônibus encrencou, foi motivo de algum desânimo. Maior alegria houve, quando da histórica e solidária decisão de acolher mais sem-morada em toda a área da vila. Houve casas queimadas, ocupantes presos, pessoas abandonando a luta. Porém, houve Freis, Irmãos e Irmãs católicos, bem como advogados e engenheiros, no apoio solidário; houve, sobretudo, um bom grupo de lideranças locais que foram os timoneiros da caminhada na consolidação da vila.
Atualmente está sendo garantido o direito a regularização do loteamento com suas ruas e lotes e a escrituração dos terrenos, através de processo de Usucapião. Neste processo voltamos a unificar toda a área do Prado, incluindo os terrenos que fazem frente às Ruas Livramento, Florianópolis e São Sepé. Ao todo, são exatamente 1.130 lotes!
Nesta gestão do governo Jairo Jorge, os moradores conquistaram no Orçamento Participativo de 2009/2010 - com 588 votos - os recursos necessários para viabilizar a regularização fundiária, através do programa “Canoas Minha Terra”. O projeto de urbanização e individualização dos lotes com seus memoriais descritivos já foram realizados. Estamos acompanhando o cadastramento dos moradores e a montagem dos processos de Usucapião, os quais agruparão o conjunto dos moradores em 48 quarteirões. 
A quadra oito - que compreende os moradores entre as ruas Santo Ângelo, Campinas, Sarandi e Dos Romeiros – já teve sentença favorável em setembro de 2010, fruto de uma ação ajuizada pelos alunos da UniRitter, em março de 2005. Através do programa de regularização, o prefeito irá entregar as escrituras com as matrículas individualizadas a estes 21 moradores. A quadra Um, já teve seu processo ajuizado e, na seqüência todos os demais quarteirões. Não importa se demorarem um, dois, três ou mais anos para haver sentença judicial favorável e seu seqüente registro com matrícula individual para cada morador. A todos está sendo oferecido este direito, respeitando se alguém não o queira aproveitar!
Sinto orgulho de ter participado desta história desde seus idos de 1981 até o final desta década, como frade capuchinho na animação das comunidades Divino Mestre e Nossa Senhora dos Romeiros, além de assessorar a Associação dos Moradores. Tenho maior orgulho em ser morador, acolhido pela Associação, em 1993. Como vereador, continuo colocando o melhor de mim para que a Vila União dos Operários e o Bairro Mathias Velho tenham serviços públicos de qualidade!
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 30
O MAL COMO A AUSÊNCIA DO BEM!
Uma das maiores riquezas das pessoas é sua capacidade de interagir na convivência social cotidiana, de comunicar-se. E foi neste contexto de conversa vai, conversa vem, que Aletéia amadureceu um aprendizado e fez questão de expressá-lo numa de nossas conversas. Resumiu-o assim: “A maldade só próspera nas pessoas quando não estão trabalhando. Tem que ter trabalho para nossos jovens, pois enquanto estão ocupados não praticam maldades. E o mesmo acontece com quem não milita pra melhorar seu bairro, pois terá tempo para pensar e praticar maldades”. 
Perguntei-lhe por que tanta preocupação com a maldade nas pessoas. Ela respondeu-me de pronto: “Não é com a maldade, mas com a pouca preocupação das pessoas de fazerem o certo. Com poucas pessoas empenhadas a fazerem o correto”. Foi me citando através de exemplos advindos de suas conversas com as pessoas: “tem gente que considera como grande realização pessoal ter logrado um amigo, ter traído sexualmente seu/sua companheiro/a, ter conquistado uma vantagem pelo caminho do compadrio e não ter preciso se empenhar na luta comunitária, ter sido atendido no SUS furando a fila por ter um padrinho na estrutura pública (...)”. E finalizou: “Estou convencida que é uma escolha da gente empenhar-se na militância pra melhorar nossa vida e o lugar onde moramos. O mal, a injustiça e a pobreza só acontecem onde não tem o empenho de pessoas em fazer o bem e o justo. Só com fé em Deus se faz o bem e se espanta o mal”.
Enquanto ela falava me recordava de Santo Agostinho, em especial das leituras de sua autobiografia “Confissões” e da obra política “A Cidade de Deus”. Para este convertido ao cristianismo do século IV d.C, que se tornou o principal expoente da Filosofia Cristã e um dos expoentes “Pais da Igreja Cristã”, o mal é nada mais do que a ausência do bem. A criação de Deus é boa. Deus concedeu às pessoas o livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolha. As pessoas podem optar livremente para uma vida regrada na construção do bem e da justiça ou se perderem nas paixões humanas que conduzem à perdição. 
No livro a “Cidade de Deus”, trata dos complexos assuntos que sempre apaixonaram e torturaram o espírito das pessoas, dentre outros: da origem do bem e do mal, do pecado, da lei e das penas, do conhecer e do agir do homem, de Deus, da natureza e do espírito, da pessoa, da cidade e da comunidade humana!
Evidente que neste modo de compreender a vida e o mundo existe um dualismo de um Deus e uma criação perfeita e uma humanidade e uma sociedade imperfeita que deve buscar a perfeição. É a influência do pensamento platônico que tem um aspecto positivo, o da busca da virtude do bem, do belo, do justo. A novidade agostiniana é a concepção humana de escolha, de opção, de busca, como diz Aletéia, de empenhar-se na militância cidadã como virtude para que a ausência de infraestruturas nas vilas não continue prevalecendo. Assim como Agostinho se converteu a uma vida virtuosa, fruto de uma escolha pessoal, assim Aletéia converteu-se à militância social e cidadã fruto de uma opção cidadã. Superam-se as vantagens pessoais meramente baseadas em paixões humanas que desconstroem relações de amizade e de famílias, ou vínculos comunitários e sociais. As escolhas cidadãs fortalecem as relações e vínculos sociais, pois onde o bem é construído com ações concretas, o mal não prospera com tanta facilidade!
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 28
IMPRENSA DEMOCRÁTICA, CIDADÃO CRÍTICO
A democracia brasileira vive um dos seus melhores momentos de liberdade de informação. Os jornais televisivos ou impressos informam livremente fatos e eventos, com versões as mais variadas. O enfoque pode variar entre os diferentes emissores ou no interior dos mesmos. Todo periódico esclarece seus leitores de que a responsabilidade do conteúdo da informação é do seu autor. A opinião do jornal está em seus editoriais e tão somente. Nota-se que também essa muda, fruto das pressões dos diferentes segmentos.
Cabe ao editor montar a pauta de seu veículo de informação e ao setor comercial carrear anúncios para viabilizar sua circulação. O critério para informar esta ou aquela notícia, dar espaço a este ou aquele colunista, privilegiar este ou aquele anúncio, está na responsabilidade dos donos do jornal, tanto pelo seu discernimento como pela sua capacidade de captar recursos econômicos. Sua sobrevivência, teoricamente, dependeria da credibilidade dos leitores e assinantes.
Os leitores, podemos classificá-los em um leque que vai desde os que sentem atração para as desgraças na vida das pessoas e a degradação das instituições sociais e políticas – percebe-se que são a maioria - até os que se regozijam com as conquistas e superações pessoais e as realizações positivas das organizações privadas e públicas governamentais. 
Em um extremo estão as notícias de acidentes e desastres violentos e dizimadores de vidas; das relações humanas de constrangimentos pessoais e escândalos públicos; das articulações políticas que produzem corrupções, desmandos e injustiças; das organizações sociais que sucumbem em seus objetivos por motivos de divergências pessoais ou por desvios de finalidade, favorecendo pequenas parcelas à custa de seus associados. Em outro extremo estão os que dão crédito aos eventos que enaltecem as relações humanas solidárias e os vínculos pessoais nobres e virtuosos; de avanços e ampliação de conquistas nas melhorias de infraestrutura em bairros e cidades; de governos que inovam com serviços mais resolutivos e programem obras e equipamentos mais modernos, belos e úteis; de gestores que induzem a cidadania através de mecanismos de participação e diálogo e construam um ambiente de bem-estar e orgulho em ser morador desta municipalidade. 
Na verdade, a vida é uma grande mistura destes fatos e eventos, ora prevalecendo uns ora outros. Cabe ao editor escolher o enfoque nesta ou naquela visão, ou misturar ambas.  Mas, tem outro elemento fundamental: o editor está condicionado ao contexto de mercado que garante a sobrevivência do jornal. E, quase sempre, para garantir a sobrevivência do mesmo, o veículo de informação acaba adaptando-se aos interesses dos segmentos que o patrocinam. Pois, existe também a liberdade dos patrocinadores escolherem investir neste ou naquele periódico.
Cabe ao leitor uma necessária visão crítica analisando os interesses econômicos dos que o patrocinam, os interesses do editor que monta a pauta de seu veículo de comunicação e/ou os interesses de atender o que a maioria do público quer ver escrito. Conclui-se, portanto, que não há notícias ou eventos neutros, tanto em quantidade como em qualidade. Tudo é fruto de interesses, quer sejam altruístas, pessoal e socialmente, ou egoístas que tendam a fortalecer determinada posição política, econômica ou de outro grupo institucional. Os sábios, pelo menos, alertam-nos disto! 
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 27
LIVRES E AMOROSOS EM JESUS CRISTO
Aletéia - Conselheira do Orçamento Participativo/OP – tem-se dedicado com convicção na mobilizado das pessoas na conquista de serviços e equipamentos públicos. O aumento significativo de cidadãos nas assembléias do OP é fruto de sua atuação e, a seu exemplo, tantos outros assumiram com convicção esta causa.
Perguntei-lhe como se sentia e avaliava esta vitalidade cidadã e democrática em nossa cidade. De pronto, disse-me: “Seu Ivo, vejo e sinto que as pessoas estão descobrindo a VERDADE!” Retruco-lhe: “como descobrindo a verdade?” Enfática, diz-me: “As pessoas estão vendo acontecer o que é necessário para nossas vilas; a escola, o asfalto, a regularização fundiária. Os recursos públicos não servem para privilegiar alguns poucos mais amigos, mais instruídos, mais espertos, mais ricos! É a grande Verdade de Jesus acontecendo: a partilha do uniforme escolar; o doente recebendo remédio e cura; o morador da vila de ocupação recebendo asfalto e escritura; um bairro de irmãos se construindo, apontando para uma nova cidade de inclusão de todos!” 
Fiquei meditando sobre a raiz das convicções cristãs de Aletéia e a riqueza política de Jesus Cristo, no contexto da Palestina. Jesus, o herdeiro de um povo que por mais de século fizera uma aliança com um Deus Único, diferente de todos os povos que criam em divindades politeístas. A conquistada saída do povo hebreu da escravidão egípcia e a retomada da terra prometida da Palestina, marca um diferencial de organização política deste povo: (1) crer num Deus Único Libertador, (2) na construção de um povo onde todos podem ser incluídos, (3) baseados numa única ética da liberdade e da vida em abundância. Habitando como tribos, constituindo-se como reinado, submetidos pelos Persas, exilados na babilônia e vivendo na submissão política do Império Romano, mantiveram esta mesma tríade reafirmada no pensamento e na vida de Jesus Cristo e nas comunidades neotestamentários animadas pelos apóstolos Pedro, João e Tiago e os missionários como Paulo e Lídia. 
Jesus organiza um grupo de seguidores, anunciando um novo tempo pela inclusão social dos deserdados (pobres, prostitutas, doentes, maltrapilhos...) e o convite à conversão de todos a partir da regra do “amor ao próximo como a si mesmo, como expressão do amor à Deus”. O maior é o que serve, e pelo serviço aos outros se estabelece a autoridade do que detém o poder político. Subverte, portanto, a autoridade baseada na posse dos bens materiais ou do status social, institucional, religioso ou qualquer outro. É a radicalidade da irmanação social, no amor ao outro como amor de Deus, pois Deus está a partir de Jesus, encarnado na criação e, seu ápice, a vida humana: o outro como o/a pobre, o/a discriminado/a, o/a necessitado/a. É um processo de inclusão a partir dos últimos, os que garantem a salvação no julgamento final, pois fazendo isto a qualquer dos mais pequeninos estar-se-á fazendo a Deus. 
Paulo afirma que “não há nem judeu e nem grego, nem livre e nem escravo, nem homem e nem mulher” (Gálatas 3,26-28), superando as três maiores divisões sociais do século I: preconceito nacional, a dominação social e econômica e a submissão da mulher. Jesus irmana a todos! 
Não há culpa inata, não há passado irremediável, não haverá fatalidade. Quando ocorre a verdade política: quando a ação pessoal e social faz homens/mulheres livres e amorosos!
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 26
ELEGER CONSELHEIROS TUTELARES
No próximo dia 24 de julho todos os cidadãos canoenses que possuem título de eleitor poderão votar em dois candidatos a Conselheiro (a) Tutelar para os próximos três anos. 
Nós canoenses iniciamos a escolher conselheiros em 1993, apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei 8.069), permitir isto desde julho de 1990. Iniciamos com um Conselho com 5 conselheiros e já evoluímos para dois Conselhos. Já houve movimentos para termos mais dois Conselhos, assunto ainda em debate.
Neste sétimo pleito temos 24 pretendentes que passaram por etapas eliminatórias, dentre estas, um exame de avaliação psicotécnica e uma prova eliminatória de conhecimentos sobre o ECA. Agora cabe aos cidadãos escolherem pelo voto facultativo, não obrigatório, os dez que terão a responsabilidade de serem os “advogados” dos direitos das crianças (pessoa até doze anos incompletos) e adolescentes (pessoas entre doze e dezoito anos) canoenses.
O ECA no artigo terceiro estabelece que as crianças e os adolescentes “gozam de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana”. No artigo quarto, coloca a responsabilidade na “família, na comunidade, na sociedade em geral e no poder público”, para que seja assegurada com absoluta prioridade a “efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. 
Nestas duas décadas de existência do ECA, ainda permanece forte crítica de setores da sociedade que o considera muito paternalista. Como dizem garante muita proteção e poucas “obrigações”, bem como, é pouco rigoroso em relação às punições de atos infracionais. Alguns alegam que o estatuto oportuniza grupos criminosos livrarem-se de responsabilidades criminais fazendo com que adolescentes assumam a culta de crimes. Estes postulam como solução a diminuição da maioridade penal e adoção de punições mais severas para atos infracionais. 
Independente de opiniões pela justeza das medidas ou sua reformulação, o certo é que tanto a família, a sociedade e o poder público não têm dado conta de todas as suas responsabilidades, pois ainda existem crianças abandonadas nas ruas ou permanecendo em casa sozinha por longos períodos. Seguidamente temos notícias de crianças trabalhando para garantir sustento familiar, em detrimento de estarem na escola estudando.
A função de Conselheiro (a), inegavelmente, tem relevante função social tanto no sentido de zelar pela proteção e efetivação dos direitos, quanto pelo seu papel de mediar situações de violência e não proteção familiar e/ou governamental. 
Penso que todo eleitor deve aproveitar mais este pleito para tomar consciência desta importante função e escolher bem seus dois votos, para que nossas crianças e adolescente sejam bem cuidadas pelos futuros dez conselheiros canoenses. 
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 25
O PENSAMENTO MEDIEVAL
Nesta edição, inicio as reflexões á luz de pensadores medievais. Estes, na história da humanidade, tentaram juntar reflexões dos clássicos - fundamentalmente os gregos - com o grande despertar religioso do cristianismo. 
Entre o período grego e medieval, tivemos a exuberância do grande Império Romano que não produziu nenhuma nova grande corrente inspiradora do pensamento humano. A Cultura Romana foi uma síntese de contribuições de três grandes civilizações: dos etruscos, recolheram os fundamentos da vida urbana, com suas crenças e hierarquia; dos orientais, buscaram o gosto pela monumentalidade, o conforto, o luxo e o misticismo; dos gregos herdaram os modelos artísticos, literários, religiosos e filosóficos.
Não resta dúvida que devo dedicar uma coluna ao cidadão de Belém de Judá (ou de Nazaré), Jesus, filho de Maria e José, o conhecido “Jesus Cristo”, a partir de uma visão social decorrente dos textos evangélicos de Mateus, Lucas, Marcos e João e dos demais textos “neotestamentários”, em particular de Paulo de Tarso.
Esta mensagem cristã torna-se uma religião, com doutrina e ritos que, de perseguida passa a ser a religião oficial romana, em 313 d.C, com o Imperador Constantino. Surgem pensadores que tentam dar consistência juntando o pensamento racional com as verdades da fé.  São os grandes pensadores do período medieval, realizando o encontro do pensamento dos clássicos gregos com a reflexão cristã.
Os chamados “Pais da Igreja” produziram o pensamento da conhecida “patrística”, um ensaio de reconciliar a fé com a razão, porém esta última sempre submetida á primeira. Destes, escolho as reflexões de Agostinho de Hipona, o grande filósofo Santo Agostinho que bebe na vertente do pensamento grego, particularmente de Platão e na mensagem cristã, particularmente de Paulo de Tarso para desenvolver uma primeira grande síntese da filosofia ocidental medieval.
O chamado período da Filosofia Escolástica, ensinada nas escolas, em que se avança a relação entre fé e razão para uma razoável autonomia de ambas, é o auge do pensamento medieval. Duas grandes vertentes: uma mantendo a tradição do pensamento “neo-platônico” representada pelos pensadores Franciscanos (seguidores de São Francisco de Assis) e outra resgatando o pensamento “neo-aristotélico”, com os pensadores Dominicanos (seguidores de São Domingos de Gusmão).  
Na tradição dominicana vamos dialogar com temas sistematizados por Santo Tomás de Aquino e por Mestre Eckhart. Na tradição franciscana, além de recuperarmos os grandes ensinamentos do “Mestre Chico”, dialogaremos com as reflexões de Guilherme de Ockham. 
Não vou interagir com visões modernas e contemporâneas que tendem a desprezar os grandes temas da filosofia medieval. Prefiro, assim como realizei com os clássicos gregos, resgatar algo das grandes contribuições que ainda hoje persistem e dialogam com as questões de fundo de nossa sociedade e na vida dos cidadãos. Evidente que a dimensão do sentido da vida para além da racionalidade, vale dizer, as grandes questões da fé têm uma primazia na vertente do pensamento judaico-cristão que emergiu com força na idade média. Tenho a certeza que minha amiga Aletéia irá desafiar-me e receberá com sua inegável sabedoria grandes contribuições destes pensadores medievais.
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 24
QUEM LÊ, VAI LONGE
Ao longo dos últimos anos, com a aquisição da Televisão em todos os lares e com o acesso significativo das pessoas pelos computadores, iPads, celulares  e iPhones à Internet, cresceu o número dos que prognosticam a chegada do ‘fim de seus dias” à leitura dos livros. Em 2009, pesquisa do IBGE afirmava que apenas 40,7% das famílias colocavam em seus gastos despesas com livros.
No entanto, tenho notado o grande sucesso das Feiras Públicas de Livros, como tem ocorrido em Porto Alegre, Canoas e Passo Fundo. Apesar de tudo, o mercado dos livros continua apostando em milhares de títulos, com grande procura de literatura voltada ás Espiritualidades e à Auto-Ajuda.
A Feira do Livro de Canoas, em sua 27ª edição que iniciou no dia 4 e vai até o dia 19 deste mês, têm 40 bancas de venda de livros. As atrações incluem 175 autores do Estado, 46 autores nacionais e 3 autores internacionais. São 92 lançamentos de livros e 82 eventos (seminários, palestras, saraus, mostras, exposições). No espaço Cine Literário serão exibidos 39 filmes.
A cada ano que passa cresce a integração entre o espaço da Feira do Livro com a educação nas escolas públicas e privadas no município. Neste ano, os alunos tiveram acesso á leitura do livro do autor em sala de aula, antes de conhecer o autor e com ele interagir. O autor destina os livros à escola em contrapartida ao seu lançamento na feira. Tenho acompanhado uma turma e vi a riqueza que foi a interação dos alunos com o autor. A secretaria de cultura me informou que a procura pelas escolas foi tão grande, que logo se esgotou esta possibilidade.
Interessante notar que estas feiras são organizadas não em locais fechados, mas nas praças onde ocorrem as grandes movimentações do público. Aliás, em Canoas, o local público das praças e das ruas tem sido o espaço de grandes inovações cidadãs, como o Prefeitura na Rua, as Bibliopraças e demais eventos culturais e artísticos. 
O lema da feira deste ano é sugestivo para uma reflexão da importância da leitura do livro:“Quem lê, vai longe”. A leitura é uma ação humana fundamental para o desenvolvimento da consciência, da imaginação, da capacidade de sonhar e projetar novas realidades. Na leitura, cada pessoa faz o seu ritmo, diferente do assistir à televisão ou do ouvir uma aula, onde temos que seguir no ritmo do outro. E a leitura do livro, ainda continua sendo, no meu entender, a melhor das formas de leitura para irmos longe.
É claro que permanece a questão do custo ainda alto dos livros para a grande parte da população. As Bibliopraça da Praça Pio X e as outras 3 da cidade, os pontinhos de leitura, as bibliotecas das escolas e a Biblioteca Pública Municipal são espaços públicos de acesso à leitura. Isto sem contar os jornais e as revistas. Parabenizo as recentes iniciativas de novos jornais na cidade, como o “Jornal da Mathias”.
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 23
ALETÉIA E AS CONQUISTAS CIDADÃS
No Fórum de Delgados do Orçamento Participativo - OP, Aletéia elegeu-se Conselheira. Dei-lhe os parabéns e percebi na sua alegria um olhar um pouco inconformado. Compreendi que era preciso tirar um tempo para dialogar.
Relatou-me que no processo de eleição, noventa e cinco por cento do tempo foram ocupados na discussão de critérios para o perfil do Conselheiro. Detalhou-me que ajudou a derrotar três critérios preconceituosos: exclusividade masculina; escolaridade mínima em nível de segundo grau; e, fazer parte de organização social formal. 
Consumimos umas 200 idas e vindas pela praça, bem ao estilo peripatético de Aristóteles e seus discípulos no Liceu Ateniense, ouvindo-a e recordando reflexões consolidadas há 25 séculos nas obras “Ética” e “Política” de Aristóteles. O gancho também veio pela pergunta de onde o prefeito Jairo Jorge tirou este nome de “Ágora Vitual”(Ágora era a praça grega onde os cidadãos debatiam e decidiam os rumos de suas cidades). 
Tranqüilizei Aletéia de que estes e outros temas preconceituosos podem, na atualidade, serem desmascarados e superados, o que na democracia grega eram limitações reais. Falei-lhe das reflexões de Aristóteles, conclusões de análises metódicas a partir de 158 constituições de estados-cidades e algumas confederações gregas. Este pensador definiu o ser humano como “animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos. A natureza, que nada faz em vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra”, para manifestar “o conhecimento desenvolvido, pelo menos o sentimento obscuro do bem e do mal, do útil e do nocivo, do justo e do injusto”.  Disse mais: “ninguém pode bastar-se a si mesmo. Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ficar com eles, ou é um deus, ou um bruto”. Na ordem natural “o macho está acima da fêmea”, pois “quanto ao sexo, a diferença é indelével: qualquer que seja a idade da mulher, o homem deve conservar sua superioridade”. 
Reconheceu a Democracia (governo dos cidadãos) superior à Monarquia (governo de um) e à Aristocracia (governo de poucos). Porém, as mulheres, as crianças, os anciãos e os escravos (povos conquistados) não participavam como cidadãos em nenhuma. Cidadão podia ser apenas o homem (varão) adulto. Em algumas cidades, só se aceitava o cidadão (varão) de nascença e em outras podia ser adquirida com bens materiais. 
Aletéia lembrou de ter assistido um filme onde Aristóteles aparece como educador de Alexandre, o qual ampliou o império grego para o Oriente e mandava para o mestre muitos materiais que embasaram pesquisas científicas que tornaram-se base importante  da cultura ocidental.
Fiquei feliz quando Aletéia considerou a participação cidadã no OP superior à da democracia grega das Ágoras, pela inclusão das mulheres, das pessoas com pouca instrução e de não considerar a origem social ou pertencimento a determinadas instituições sociais ou econômicas como critério de acesso. Concordou, no entanto, com Aristóteles de que as virtudes da prudência, da justiça e da equidade são fundamentais para o exercício dos encargos públicos, inclusive dos Conselheiros do Orçamento Participativo. 
Ivo Fiorotti, Vereador, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 22
AS CALÇADAS ECOLÓGICAS
No último dia 25 de abril, o Prefeito Jairo Jorge sancionou a Lei n.º 5.590, a qual alterou a Lei 5.468/09, fruto de projetos de minha autoria, que tratam das “Calçadas Ecológicas” em Canoas.
Determina esta lei que nos novos loteamentos, nos loteamentos a serem regularizados e nos passeios públicos deve-se destinar no mínimo 30% da área das calçadas com vegetação rasteira ou materiais que permitam a absorção das águas das chuvas, salvo as entradas para portões ou garagens. 
Determina esta lei também que a área revestida com pavimentação impermeável deve ser de piso regular e seguro, mantendo a superfície continua e firme, sendo vedada a utilização de meterias que deixem o pavimento escorregadio.
O ajuste realizado pela última Lei n. 5.590, determina que, para facilitar a circulação e o deslocamento das pessoas, a área de permeabilidade do solo será medida e localizada a partir do alinhamento do meio-fio da calçada. 
Esta lei engrandece três grandes temas urbanos: a sustentabilidade ambiental, a acessibilidade e a estética urbana. 
Nossas ruas, calçadas e quintais vão sucumbindo ao cimento e ao asfalto. Agravam-se os riscos nas enxurradas e aumenta a instabilidade do subsolo. As águas das chuvas escorrem pelos ralos, bocas de lobos e em pouco tempo estão nos rios, sendo que, logo após as chuvas pararem, já encontraremos nossas ruas e calçadas nos lugares mais altos secas e as baixadas alagadas. A ausência de umidade no subsolo oportuniza fenômenos de rebaixamentos e crateras. As calçadas ramificam-se pelo espaço urbano e permitem uma universalização de pequenos espaços permeáveis que minimizam os riscos decorrentes das enxurradas e garantem a umidade necessária ao equilíbrio no subsolo.
Situando esta área permeável junto ao meio-fio, espaço onde se localizam ás árvores, os postes da rede elétrica e telefônica, as lixeiras, os orelhões e demais equipamentos, permite-se que o restante da calçada esteja livre para a mobilidade urbana, particularmente de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida em função do uso auxiliar de cadeiras de rodas, bengalas e varetas. Sem contar com as exigências de o pavimento ser firme e seguro. 
O verde, os materiais permeáveis e o ordenamento oportunizam uma nova estética urbana. 
O município está aplicando esta lei na calçada junto a Rua Ipiranga, na praça da emancipação. Parabéns pelo protagonismo do Prefeito e da Secretaria do Meio Ambiente.
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 21
A CIDANIA NA DEMOCRACIA
Quem pode participar do 1º Congresso da Cidade de Canoas teve uma experiência extraordinária de cidadania e democracia. Aletéia, na cerimônia de encerramento do evento, falava-me emocionada: “Ivo, já me sentia realizada com o Orçamento Participativo, mas como fiquei encantada com o que aprendi e com as novas perguntas que anotei - mostrando várias folhas de anotações - com este Congresso. E com a oportunidade de dialogar sobre novos assuntos com outras pessoas da cidade. E este estudo do Estado da Cidade, quanta coisa nova!”. E continuou fazendo observações por quase meia hora, enquanto assistíamos a um belo show da trupe circense Troll, da nossa cidade gaúcha de Pelotas. 
Não sei por que, mas enquanto ouvia seu relato inovador em cidadania republicana eu me recordei do ateniense Platão, tanto pela sua trajetória de vida como pela sua reflexão dialógica sobre a vida dos políticos e suas virtudes e limites, que sobrevive por mais de vinte e cinco séculos e ainda nos instigam hoje, como a justiça. E não pude me furtar de dialogar com Aletéia, á luz deste pensador! 
Platão tinha a mesma idade de Aletéia, cerca de trinta anos, quando seu mestre Sócrates foi julgado a tomar cicuta pela Assembléia dos cidadãos de Atenas. Passou uma década viajando pelo sul da Itália, norte da África e pelas principais cidades democráticas da Grécia, até fundar sua Academia em Atenas. Esta teve sempre grande presença de alunos no exercício da maiêutica Platônica, tendo fartos diálogos consolidados em obras que nos chegam atém hoje, como a Apologia de Sócrates, o Fedro, o Banquete, Teeteto, além de, A República.  Por duas oportunidades a academia teve que ser chefiada por outros pensadores, com as fugas à Siracusa do Mestre, em decorrência de perseguições políticas. Após a morte de Platão, já octogenário, a Academia de Platão disputava com a Escola de Isócrates a preferência na formação intelectual dos jovens de toda a Grécia nas mais variadas ciências.
A República é uma grande reflexão sobre as formas de governo, elogiando a democracia. O tema central é a questão da justiça na democracia. Ainda bastante atual, no capítulo final, Platão pela boca de Sócrates chega à conclusão que o pior mal da não justiça de um governante é a corrupção. Aliás, muito recorrente e um dos principais males dos gestores nas democracias pelo Brasil e pelo mundo afora.
Aletéia ficou “encucada” quando lhe falei que Platão considerava que os gestores da democracia deveriam ser filósofos provados pelas virtudes da justiça, do belo e da bondade. Bem como, a necessidade vital da maioria dos homens atenienses tornarem-se valorosos soldados. Falei-lhe de várias máximas dos diálogos platônicos, riu com algumas delas, mas confidenciou-me a que mais lhe tocou: “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado”!
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 20
Energia Solar e Sustentabilidade Urbana
A sustentabilidade no uso das fontes energéticas urbanas, em particular, o da energia solar, pode não ser o principal tema da estratégia do 1º Congresso da Cidade de Canoas, mas com certeza é um dos mais instigantes. Ao pretendermos desenvolver o equilíbrio ambiental para sermos mais sustentáveis, temos que encarar com seriedade uma política pública que contemple esta fonte energética provinda do nosso astro-rei. 
As diretrizes formuladas pelas mais destacadas lideranças canoenses nas áreas da cidadania, infra-estrutura e desenvolvimento para os próximos dez anos são gerais e abrangentes, sem perderem o horizonte da concretude. Por isto visam uma estratégia que nos guie para sermos uma cidade mais sustentável, humana, integrada, inovadora e próspera que pretende alcançar um patamar de atração de “investimentos, visitantes e atenção à cidadania e na oferta de qualidade de vida e desenvolvimento sustentável a seus cidadãos”.  Nos dias 14 e 15 de abril, 104 ações em 43 iniciativas forma ratificados pelos delegados eleitos no seminário e nas plenárias.
O “dia seguinte” já deve indicar políticas públicas que incentivem parcerias com universidades e a implementação de projetos concretos, por exemplo, utilizando a energia solar em substituição gradativa às fontes de energia poluentes. Veja o que representa o uso de aquecedores solares nas residências e espaços de serviços públicos. Um único aparelho pode eliminar o consumo de 215 kg de lenha/ano, economizar 55 kg de GPL/ano e poupar 66 litros diesel/ano, além de garantir empregos na produção de novos insumos e unidades de produção destes equipamentos.
Aqui bem perto já temos tecnologia desenvolvida pela faculdade de Física da PUC/RS na produção da Energia Solar Fotovoltaica e pelo Laboratório de Energia Solar da UFRGS. O poder público municipal tem todas as condições de fomentar de forma inovadora parcerias estratégicas e impulsionar a atração de empresas que permitam gerar equipamentos e novos empregos. Ou seja, novas oportunidades de trabalho e renda dignos. Não podemos perder este foco, embora tenhamos muitos outros aspectos estratégicos e com igual ou maior grau de urgência, dentro do desafio da sustentabilidade urbana. O desafio deste protagonismo deve estar com o Poder público, as universidades e as ONGs! 
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 19
A PERMANENTE CONSTRUÇÃO CIDADÃ
É comum nestas andanças de vereador as pessoas me confidenciarem que o povo mathiense não sabe ser cidadão. Quase sempre se referem à maioria, que não participa de atividades que visam à qualificação de espaços e equipamentos públicos, quer seja através do Orçamento Participativo ou de iniciativas comunitárias das organizações sociais. Alguns chegam a me descrever minimamente as características mínimas de um cidadão. Outros entendem que somente pode ser considerado cidadão aquele que fizer mais ou menos o que ele faz, em termos de participação social. 
Dentre os primeiros, os dos requisitos mínimos, Aletéia tem se posicionado! Senti-me desafiado a exercer um pouco do método socrático, esta pérola lapidada que a humanidade herdou de Sócrates. Filósofo grego, da cidade de Atenas, contemporâneo de Heráclito e de Parmênides, Sócrates também viveu no século V a.C. Sabe-se que dialogava com todos e considerava sua atividade um serviço gratuito, sem fundar uma escola.
Em seus diálogos gratuitos, através de questionamentos irônicos, levava os interlocutores à contradição e á conclusão dos limites de suas certezas. Ao mesmo tempo, induzia o interlocutor por seu próprio raciocínio, chegar à solução de sua dúvida. Esta indução á busca do próprio conhecimento é conhecida como maiêutica, o esforço pessoal de parir as próprias idéias. 
Menos de meia hora de perguntas irônicas sobre os requisitos mínimos de cidadania foram suficientes pra Aletéia chegar ao ápice do cinismo. Uma luz ficou em uma de suas conclusões: “Seu Ivo, tô chegando à conclusão que as pessoas não participam porque ainda não descobriram este valor”. Dizia Sócrates: “Não penses mal dos que procedem mal; pense somente que estão equivocados”, ou ainda, “O homem faz o mal, porque não sabe o que é o bem!”.
A cidadania é uma construção permanente de pessoas que em contínuo processo de questionamento das mais variadas certezas, encontram pessoal e coletivamente novas soluções. Sócrates dialogava com todos mas atraiu particularmente a juventude. Foi acusado pelos “senhores dirigentes” do modelo democrático elitizado de corromper a juventude, com sua ironia e maiêutica. Foi julgado e condenado a tomar veneno, a “cicuta”. Não voltou atrás em sua convicção de homem livre e consciente que preferiu a morte. Seu método foi reconhecido por muitos filósofos ao longo da história e continua atual como processo de tomada de consciência e firmeza de virtude. Aletéia, com certeza, “se conhece a si mesma”!
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 18
PEQUENAS ATITUDES, GRANDES MUDANÇAS
Ficamos impressionados com as catástrofes naturais ocorridas recentemente no Japão com terremotos, maremotos e tsumanis; o Brasil inteiro ficou chocado e se solidarizou há poucos meses com o que ocorreu nas cidades serranas do Rio de Janeiro; nós gaúchos, nos preocupamos com a seca na nossa região sul do estado. 
Estudiosos destes temas nos indicam um gradativo aquecimento do clima que está ocasionando elevação das temperaturas nos trópicos e degelo nas regiões árticas e antárticas. Conhecemos estudos que estima que, em menos de cem anos, haverá grandes dificuldade dos seres humanos conviverem à vontade neste planeta terra.  Alguns profetizam haver catástrofes naturais tão grandes que possam ocasionar a extinção dos seres humanos e uma grande parte dos atuais seres vivos, animais e vegetais. 
Todos os anos por ocasião do período da Quaresma, que vai do dia seguinte ao Carnaval até o Domingo de Páscoa, a Conferência dos Bispos do Brasil – CNBB lança a Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2011, esta ação da Igreja Católica dirigida aos seus seguidores e a todos os homens e mulheres de boa-vontade, dentre tantos objetivos, via estimular nas pessoas uma conversão ecológica.
Com o tema “Vida no Planeta Terra”, coloca o debate cidadão de nossas atitudes, hábitos e entendimentos da relação da vida humana com o equilíbrio natural do nosso planeta. 
Não importa o grau maior ou menor de extinção da vida humana no planeta. O que é certo é que existem problemas ocasionados pela raça humana, pelo uso dos bens naturais e fruto do nosso modo de vida. Daí o imperativo da conversão ecológica, da mudança de hábitos, da tomada de consciência em encontrar uma forma de viver mais harmônica com a natureza. 
Neste aspecto as civilizações indígenas, aquelas que por muito tempo temos consideradas como representantes do “atraso”, tornam-se cada vez mais nossas mestras. A cada dia passamos a reconhecer o modo harmônico de vida dos guaranis, dos caingangues, dos minuanos e charruas, dentre tantos outros que por centenas e milhares de anos viveram nestas terras sulinas. Garantiam seu alimento, vestuário, saúde, proteção e felicidade sem utilizar-se de processos produtivos que provocavam desequilíbrios e catástrofes.
A pergunta que urge é: que fazer? E as respostas quase sempre recaem na responsabilidade dos governantes e das lideranças sociais. Com certeza, é destes que lideram os programas e políticas públicas a iniciativa que promovam ações de sustentabilidade, tais como a busca de fontes energéticas menos poluentes de nosso ar e de nossa água, formas de produção menos agressivas ao solo e ao clima, dentre outras.
Porém, em cada um de nós urge também a conversão ecológica: reciclar o lixo, escolher alimentos saudáveis, optar por fontes energéticas menos poluentes, utilizar-se de bens e serviços mais ecológicos. Enfim, tomar consciência de que a construção de uma civilização orientada por um equilíbrio maior entre o ser humano e a natureza, depende também de pequenas mudanças no cotidiano de cada um de nós!
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 17
O DESPERTAR DO PENSAMENTO SOCIAL
(segunda parte)
Aletéia ficou “encucada” com o que lhe havia falado da busca do entendimento e da verdade. Intimou-me no final de uma reunião do OP com duas afirmações: (1) “Esta história de fazer valer o interesse público sobre o interesse particular, até que já estou ficando craque. É pelo convencimento do argumento e pela sedução do diálogo que se toma decisão por maioria e passa a valer para todos;” (2) “Mas que verdade é esta que as vezes dura pouco.  Muitas regras que foram decididas pela maioria em uma reunião de delegados do OP são rediscutidas em outra reunião e acabam sendo mudadas”. E por mais de hora foi me falando de que se perde muito tempo em discutir regras e leis pra durarem pouco tempo, que mudam os problemas, mudam as necessidades das pessoas, muda o entendimento das pessoas, muda isto, muda aquilo e fica confusa de as regras tem que mudar mesmo a toda hora ou deveria ser estáveis, ter vida social e política mais longa. E tacou-me mais uma pergunta: “Este sentimento de mudança nas regras é coisa moderna ou já estava presente no pensamento dos antigos?” 
Senti-me na obrigação de falar-lhe das reflexões mais antigas que temos conhecimento, as da escola filosófica “Jônica”, as quais afirmavam a verdade em permanente mudança. Nas palavras de seu mais ilustre pensador, Heráclito de Éfeso, a realidade é um constante “fluir’, a verdade está no “devir” das coisas e que “nada existe de permanente a não ser a mudança”. 
Vivendo mais ou menos no mesmo tempo que Parmênides, do outro lado da civilização grega, no oriente, hoje atual Turquia. Recebendo, com certeza a influência do pensar das civilizações milenares do oriente, que valorizam o movimento e a mudança. Filho de nobres aristocratas deixou para o irmão a tarefa de governar a cidade. Optou por uma vida simples junto ao campo e chegou a convencer um amigo que era governante de uma cidade a abandonar o poder para segui-lo em seu modo de vida. Passou a vida questionando a certeza das regras da democracia grega, convencido que a verdade de uma lei tinha validade para o momento e que no outro dia já estava superada. Dizia: “Não se cruza o mesmo rio duas vezes, porque outras são as águas que correm nele”; ”Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Ou seja, na segunda vez a água e nós já não somos os mesmos. Por isto a verdade, o que ele chamava de “logos”, que aqui se pode compreender como o entendimento de determinado momento de um grupo numa discussão, deve ser uma busca constante, porque a vida está em constante mudança. Ele usava a imagem do logos como o fogo que pela sua ação se destrói e consome, também ilumina e aquece. Dizia mais: “a oposição produz a concórdia; da discórdia surge a mais ela harmonia”. Enfim, demonstrei-lhe que a mudança é um tema das antigas cidades gregas na construção de regras e leis mutáveis.  
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 16
A triste sina dos anistiados políticos
A curiosidade da comadre Terezinha me exige ler todos os dias os jornais pra manter um bom nível de informação sobre o que acontece. É claro, além de minha função na vereança. 
Nestes dias me indagou indignada sobre esta história de que tem anistiado político ganhando grandes indenizações. Dizia-me: fizeram bagunça e são premiados, enquanto tem tantos trabalhadores que enlouqueceram no trabalho e famílias que ficaram órfãs em desavenças entre vizinhos e não tem direito a indenização nenhuma. 
Perguntei-lhe se sabia da história dos sargentos e suboficiais que foram presos e perseguidos com o golpe militar de 1964, só porque  em agosto de 1961 tiveram um golpe de sanidade mental e impediram o bombardeamento  do Palácio Piratini pra calar o governador Brizola que liderava o movimento da legalidade. Fiquei mais de hora relatando-lhe fatos e histórias de vidas pessoais e familiares abortadas por perseguição política na ditadura militar. Particularmente, falei-lhe dos que ainda hoje vivem e moram em Canoas e que poucos conhecem suas histórias. Dei-lhe de presente o livro que relata o depoimento do Tenente Coronel Reformado, Sr. Avelino Iost pra ler e conhecer um pouco. 
E terminei-lhe dizendo que as reparações econômicas são uma pequena parte, mas um grande gesto de um povo que valoriza a democracia e a cidadania. Aproveito para informar que quem quiser receber por email o depoimento deste canoense sobre os episódios que ocorreram em nossa cidade é só solicitar-me pelo e-mail das sugestões. Abraços e viva a democracia que garante a liberdade e permite a construção de regras que podem ser trocadas para garantir a organização social.
(Opiniões e sugestões  pelo email: ivofiorotti@uol.com.br)
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas
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Edição 15
O DESPERTAR DO PENSAMENTO SOCIAL
Aletéia, no ano passado, tomou a decisão de ser delegada no processo do Orçamento Participativo. Dia destes, percebi-a angustiada e cutuquei-lhe uma pergunta: preocupada com o quê, cidadã mathiense?
Ela ficou matutando e retrucou-me: “não é fácil as pessoas chegarem a entendimentos comuns! Até nas reuniões de delegados, parece-me que a mesma idéia, as pessoas entendem de maneira diferente. Depois de muita conversa, até que se chega a um mesmo entendimento”. Pedi-lhe um exemplo. Ela me falou do conceito de prioridade pública. Disse-me que alguns entendiam ser aquilo que resolvia o problema particular; outros entendiam que deveria resolver problemas da maior parte da vila. Para alguns era iniciar a asfaltar em frente a sua casa; para outros era iniciar o asfalto pelas ruas mais movimentadas, pelas ruas onde havia serviços públicos (escola, posto de saúde, horta comunitária, creche). Só que ninguém defende abertamente seu interesse particular e, de forma falsa, o encoberta com algum argumento coletivo. Mas, na discussão aparece a verdade e a falsidade. E tascou-me uma última pergunta: “quando iniciou esta história da verdade e de encobrir a verdade com a falsidade?”.
Falei-lhe então de Parmênides, pensador e líder político, o qual iniciou uma das primeiras escolas de iniciação filosófica, na cidade de Eléia, no sul da atual Itália, há mais de 2.500 anos. Na época, Eléia era uma colônia do Império Grego no ocidente. Ele nos deixou um Poema com 160 versos, onde fala da busca da verdade,  pela exercício da razão em oposição ao que é opinião e não traz toda a verdade. É o mais antigo relato histórico do esforço humana da busca da verdade, pois até então, a verdade era sempre dada a partir de mitos que expressavam a vontade dos deuses. Evidente que as mitologias são construções históricas, mas uma vez aceitas, tornam-se pura aceitação e repetição. Porém, com esta iniciativa que está simbolizada neste pensador, as pessoas começaram a construir suas regras da cidade a partir do esforço da razão humana. Partindo da observação empírica dos fatos, das comparações e do debate entre os cidadãos, chegava-se a formular verdades que convenciam o conjunto dos cidadãos pelo entendimento da razão de que deveriam ser observadas. Agora, não mais impostas pela força da família com o exército mais forte. Tornou-se legislador prestigiado, pois liderou um consenso social em Eléia que durou mais de uma década, onde os cidadãos livres construíram regras e decisões coletivas numa cidade plural em tradições, costumes e adoração a deuses diferentes. È considerado o pai da filosofia ocidental.
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 14
O DESPERTAR DO PENSAMENTO
Um dia, Aletéia, após deliciosas conversas sobre as possíveis soluções aos tantos problemas do nosso bairro Mathias Velho, fez-me mais ou menos esta observação: “Que coisa linda as pessoas poderem pensar soluções para os problemas. Dar-se consta de que problema não é fim-de-mundo, mete medo e nos paralisa. Se a gente não pensa em achar saídas para superar o problema, ele nos deixa tristes, desanimados, azedos e até antipáticos. E a alegria que a gente tem quando encontra uma solução que resolva o caso”. Parou, pensou um pouco, olhou-me com aquela curiosidade profunda e perguntou-me: “Quando é que as pessoas iniciaram a pensar a solução dos problemas?”
A pergunta me tocou fundo, sussurrei uns “ahns, ahns” passando a mão na barba de meu queixo e pedi-lhe um tempinho para organizar as respostas em minha memória.
Iniciei lhe falando o que aprendi das mais recentes pesquisas da etnobiologia (estudos sobre o início da vida humana). Aliás, de que havia ficado surpreso em saber que o processo que inicia a vida humana se deu lá a milhões de anos, quando a luta pela sobrevivência através do alimento começou a ser compartilhado. Quando nossos antepassados começaram a deixar de lado a luta individual pelo sustento alimentar e passaram a formações coletivas de partilha de comida. Veja como é antiga e sempre nos acompanha a idéia da comunhão do pão! Na seqüência a partilha da proteção, do abrigo, passando pela família, comunidade e organização social de um povo e uma nação. 
Falei-lhe que graças as pesquisas da arqueologia e de todas as demais ciências que dialogam com a história das civilizações antigas, temos hoje fontes que nos permitem compreender o modo de pensar das pessoas de diferentes civilizações, mais importante ainda, como seu pensamento buscava a solução dos problemas que enfrentavam.  
Por fim, falei-lhe do período entre os século VI  e III antes da era Cristã, onde surgiram pessoas com idéias que revolucionaram a organização social. As cidades urbanas, resultado de muitas conquistas de guerras entre povos tomam forma graça a pilhagem e a escravidão. As idéias organizadoras das cidades derivadas de mitos e deuses protetores passam a ser questionadas, para iniciar-se o livre pensamento dos homens. Um processo perigoso e revolucionário para a época. (No próximo artigo, falarei de Parmênides de Eléia).
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 13
E A VERDADE: ALETÉIA
Desde muito tempo, minha amiga Aletéia ao se encontrar comigo, contava-me várias versões sobre um fato e me perguntava: o que disto tudo, “seu Ivo’, é a verdade mesmo! De início, tranqüilizava-a com a versão mais próxima daquilo que julgava ser a verdade. Com o passar do tempo, dependendo do fato, passei a exercitar uma das técnicas da busca da verdade de algum filósofo que passou a influenciar a minha busca do conhecimento. Faz um bom tempo que Aletéia já não me trata mais de “seu Ivo”, mas de “Ivo” e emite sua certeza frente às várias versões que surgem sobre os fatos e acontecimentos sociais. Nossa conversa passou a ser um bom diálogo da busca conjunta da verdade sobre os eventos sociais. Às vezes com versões iguais e diálogos tranqüilos; às vezes conflituosas visões que tomam rumos críticos e ásperos. A renhida discussão nos faz mudar a compreensão dos fatos para um denominador comum: uma nova visão da verdade! Tanto eu como Aletéia saímos destes momentos sempre mais enriquecidos e gratos um ao outro! 
Ocorre que ultimamente aumentaram as “Aletéias” a me indagarem com esta pergunta: qual a verdade mesmo de tudo o que acontece. Sendo assim, resolvi utilizar desta coluna para trazer às aletéias passadas, presentes e futuras, ou seja, a todos que tiverem o prazer de acompanhar esta coluna, umas brevíssimas reflexões de como os mais importantes pensadores da humanidade compreenderam a verdade dos eventos sociais, ou seja, a busca e o encontro da verdade! 
Utilizarei um método para isto, tanto na forma como no conteúdo: (a) na forma, vou dividir os diferentes pensadores em quatro categorias: mundo antigo, medieval, moderno e contemporâneo. Em cada etapa, haverá uma introdução e na seqüência, segundo meu conhecimento, a apresentação dos cinco principais pensadores em cada período. Evidente que para não cansar os leitores, utilizarei apenas da coluna da primeira edição de cada mês. Neste primeiro mês, farei a introdução dos pensadores antigos, na próxima edição. Antecipo quais serão: Parmênides de Eléia (antiga Itália), Heráclito de Éfeso (antiga Turquia), Sócrates, Platão e Aristóteles de Atenas (antiga Grécia); (b) no conteúdo, buscarei apresentar o cerne, o enfoque central na busca da verdade dos fatos, de cada pensador. Ou seja, como este referido filósofo entendia a certeza que podemos ter da verdade dos fatos e dos acontecimentos. Vou exemplificar com um fato político do momento em que estarei escrevendo a coluna, para tornar mais atraente e compreensível a reflexão do pensador. Espero que gostem, aproveitem e lhes seja proveitoso. 
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.
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Edição 12
FELIZ ANO NOVO!
Todo ano repetimos o mesmo desejo. E a cada vez que alguém nos dirige esta mensagem, ficamos alegres e gratificados. Não tenho lembrança de alguém que tenha se irritado ao desejar-lhe um bom início de ano. Pelo contrário, lembro de muitos que tristes ou irritados, esboçaram um sorriso ou um olhar de esperança ao serem presenteados com estas meigas e simples palavras de bem-querença.
Neste ano novo terei novas motivações ao desejar o início de um novo ano, de uma nova década. Uma delas, porque neste dia pela primeira vez na história deste país uma mulher estará assumindo o mais alto posto desta nação. Não só por ser mulher, o que já é muito por si só: mulher está ligada ao ato do nascimento, do novo, da ternura e do cuidado. Mas também pelo fato desta mulher garantir  a continuidade de uma proposta que foi capitaneada por um presidente que está com mais de oitenta por cento de aprovação. Pelo que me recorde, as mudanças de governo sempre estavam ligadas a uma esperança do totalmente outro que chegava e do desejo de nunca mais voltar que havia estado. E o que saía acumulava grande rejeição popular.
Mais para perto, assume um governador que teve sua vitória já no primeiro turno com quase sessenta por cento de aprovação. Uma decisão pela parecença de proposta do que vivemos no país, nos últimos anos. Pelo que acompanhamos na construção de seus auxiliares de primeiro e segundo escalão, esta expectativa estará garantida.
Na cidade, onde os dois primeiros anos foram mais difíceis e delicados, nosso mandatário desfruta de mais de sessenta por cento de bom e ótimo nas enquetes. Como o terceiro e quarto ano tende a ser de maiores realizações, não me defronto com elementos que possam me indicar um cenário negativo. Pelo contrário, será um ano promissor. 
Enfim, posso desejar com toda a responsabilidade que no que depender das condições políticas em nível federal, estadual e municipal, 2011 será um ano de muitas realizações. Desejo o mesmo para o nível pessoal de cada um e cada uma. Paz, alegria, bem-querença e felicidades a todos!
Ivo Fiorotti, teólogo e pós-graduado em Ciências Políticas.

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